De
saída, se olharmos à conjuntura do Brasil, em meio à crise política do
Executivo para com o Legislativo, e a mais agravante, do Executivo para com os
representados, o povo e a sociedade civil; podemos elencar vários problemas. Em
primeiro, há a questão econômica, que não obstante os recentes aumentos nos
serviços básicos (transporte, gasolina e luz) e na alimentação, que já colocam
o IPCA na casa dos quase 8% no período acumulado dos últimos doze meses, além do aumento da taxa básica de juros da economia (12,75%), já influem
no humor, sobretudo, da classe média, cada vez mais conservadora, e ávida por
manter o que conquistou nos últimos 12 anos.
Em
segundo, há a propaganda diária negativa com os casos de corrupção envolvendo a
maior estatal brasileira, a Petrobrás. A perda ou a sensação de perda de
bem-estar econômico desta classe média e da sociedade em geral, somada à
massificação desta comunicação negativa, dão a impressão para o cidadão comum,
se me permitem à seguinte transcrição: “eu estou aqui me sacrificando, enquanto
eles (o andar de cima) estão se locupletando, etc..”. Se a condição econômica
estivesse em patamares anteriores melhores, dificilmente, haveria a mobilização
com tal amplitude. Claro que não é uma relação mecânica, mas, é uma relação
dialética, donde, a econômica reproduz, com outros fatores, claramente tal cizânia
e instabilidade na população para com o futuro.
Mas,
o terceiro elemento que contribui como comburente (assim, como o fogo precisa
de oxigênio) para tais “combustíveis” da crise da economia e da corrupção (desvio
moral e ético), se traduz na reação, ou melhor, na falta de correção e previsão
de ação do governo. Sobre este ponto, a comunicação, como relata documento da
Secom, vazado na semana anterior, independente da filiação partidária do mesmo,
constata a deficiência da comunicação, tanto nas redes sociais, internet, como
nas grandes mídias. Vale lembrar que de Janeiro a Fevereiro de 2015, sem contar
o final do ano, houve diariamente um amontoado de notícias impopulares como o
aumento das tarifas de luz, etc., que não tiveram nem a antecipação correta da
comunicação, muito menos, durante tal processo. Resultado: quando a Presidente
foi em cadeia nacional no dia 08 de março, no Dia Internacional da Mulher, a
batalha da comunicação estava perdida, do ponto de vista da recuperação da
opinião pública. Houve um claro sentimento de traição, de desengano do que fora
comunicado de forma veemente na última comunicação contundente do governo. No segundo
turno das eleições presidenciais em 2014.
De
fato, com os combustíveis da crise, como a econômica e a política (envolvendo
os casos de corrupção), haveria insatisfação e manifestação nas ruas. Mas,
decerto, haveria maior absorção por parte do eleitorado e da sociedade, com
melhor comunicação das ações do ponto de vista da economia (macro e micro). Como
esta comunicação não ocorreu, derrocou-se a credibilidade do governo, no
sentido de grande parte da população estar com a percepção de que não se pode
mais acreditar no mesmo.
Como
se sabe, percepção é difícil mudar, mas, com acerto e correção de rumo, que
começa por um freio de arrumação, é possível se chegar a minimizar impactos. A mitigar
efeitos. Pois, de nada adianta ter uma disposição para agir, se não se comunica
de forma adequada seus intentos. E dividir, com transparência o motivo de tais
medidas, assim como mensurar, mesmo de forma relativa, o tempo e os ganhos
futuros. É indispensável, trabalhar com o Princípio
Esperança, como nos diz Ernst Bloch. Pois, todo governo é afeito a crises,
isso é da realidade histórica e política.
Mas,
servir de oxigênio para “colocar mais fogo” em problemas que - se não podem (e
não são) totalmente apagados -, podem sim, decerto ser mais bem administrados,
e melhor comunicados, isto é do ponto de vista político, básico e primário. É convidativo
ao diálogo. Por que? De nada adianta dar plataforma para movimentos radicais da
Direita, como manifestantes que estavam com camisa das Forças Armadas (com o
dizer Infantaria), pedindo Golpe ou “Intervenção Militar Constitucional”, um oximoro
, uma contradição em termos, como se intervenção militar fosse da Carta constitucional,
quando na verdade, é rasgá-la em farrapos.
De nada adianta, com seus erros,
estimular uma saída pela Direita, que se articula à luz do dia e nas ruas, quando
o governo com sua comunicação errática e suas ações voluntariosas estão em
verdadeiro eclipse da lua. É preciso, com ações de comunicação e de ação,
melhor organizadas, neutralizar a correia de transmissão da Direita e dos
setores dominantes, com a classe média. Tanto é um problema de comunicação que
não é à toa, é sintomática a reação dos manifestantes quando a Presidente e
seus ministros foram em cadeia nacional, e por sua vez, se “viram” do outro
lado da TV, recepcionados com panelaço, com barulho e estrondo ao discurso
oficial, que está descasado e defasado com a percepção das ruas, já inflado,
além destes erros, por outras variáveis e discursos.
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