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Mostrando postagens de julho, 2010

Poema: EU ENCLAUSURADO

EU ENCLAUSURADO* Volta e meia acendo uma vela, Para todo mundo, para que sejas esbelta. Vejo a todo instante o que para ti é uma cidadela. Confirmo, nos arredores, o que para mim é uma viela. Não há liberdade que seja de expressão em que impere a moralidade. Há votos ao chão, desejos em lápides, Vigiados no que falamos, se fogem ao padrão escancarado. Vivemos sendo outro, senão somos presos, Se ousarmos o Eu outrora embalsamado. Somos vítimas, apesar desta conversa capitalista, De que só podem imperar vitoriosos, Perdedores são vistos como os que não estudaram, ou os que vivem no ócio, Ou qualquer um que não seja parte desta osmose, deste certinho fóssil. Tudo é coercitivo, tudo é óbvio, Não podemos ser soberanos como indivíduos, Só estes fantoches, este padrão tórrido. Vivereis seguindo este trem, esta espécie de concessão cênica. Somos o que podemos ser, somos alguém que não mais aguenta, Somos o que está escrito, o que está regrado, ou o que inventam, Somos

Poema: IDENTIDADE

IDENTIDADE* Sou forasteiro impávido, Sou teixeirense, meio grapiúna, De Ibicaraí, hoje soteropolitano, Amanhã serei o carioca ao lado, Entro e saio da 101, minha linha férrea, meu cansaço. Em Teixeira, aprendi a vim ao mundo, Em Itabuna, aprendi a ser criança, Em Ibicaraí, saí da ciranda, Salvador foi a ponte, meu norte desta andança, No Rio, parei, voltei na labuta da mudança. Estou no farol do gigante, saí do coração pulsante, Convivo com o paiol das notícias, dos movimentos, Dos ideais deste grande montante. No olho deste gigante, minhas raízes dilataram, E no piscar de olhos e do tempo, minha visão tinha faro, Encontrei-me como cidadão e como jovem politizado, Nos corredores com amigos, com mentores invisíveis, O ideal estava deflagrado, Vim e vi este enorme balaio, Jamais me esconderei de tudo o que olharei, Mesmo que seja castrado. Navegar é preciso, viver não é preciso, Pessoa estava certo, vou de encontro ao errado, Ao calado, ao desgarrado e ao si

Poema: SONETO DO TRABALHADOR

SONETO DO TRABALHADOR* O homem que vive na labuta e na armadilha do dia, Convive com tudo e o nada, com seus sonhos em jaula, Almeja o que sonha e contrata-se com sua calma, É o que é, pois não pode ser quem é nesta trilha que lhe vicia. É gado arrebanhado que pelo vaqueiro em rédea curta brinca, Se desgarrado for, vai sofrer com a dor dos que te privam, Vive escancarado, entregue e desmantelado, aos que fingem que te mimam, É coitado, nada pode, sequer se sacode, vive e morre sem briga. É assustado, violentado e explorado, vive nesta sina, De elefante preso, vive ao anseio do medo, tímido de si mesmo, Acorrentado e oprimido, vive sem latido e sem nenhuma cisma. Não é senhor de si mesmo, vive em falsa calmaria e em desassossego, Do terror e de seu desejo, de chegar à chegada de sua bela e previsível vida. É bêbado agonizante que nada faz ao que te consome paulatinamente em segredo. Diego Fonseca Dantas 22.02.2010 *Registrado no escritório dos Direitos Autorais

Poema: SÃO SALVADOR

SÃO SALVADOR* São Salvador, ou melhor Salvador, Somos íntimos, somos cúmplices em tudo. Dos oito anos em que morei contigo Nunca fui o mesmo, nunca te esqueci. Estás sempre em mesmo sonho, Em minha rotina, a me perseguir. Penso e tenho de deixar-te todo dia, Não sou teu nascido, sou mais teu turista e inquilino. Amo-te à distância, amor platônico, aquele de infância. É minha essência, vivo como Caymmi, cantando com saudade a sua pujança. Não sou cancioneiro, nem trovador, por isso, vou escrevendo esta poesia mansa, Para lembrar-te que fazes parte do que hoje sou. És a terceira capital brasileira em população. Que prazer e deleite com que digo isto, Cresceste do que era o berço do Brasil. Antes só um estado gigante, Mas ainda pra mídia e estereótipos, um pigmeu E um paraíso para festas de um povo hilariante, E vista pelos governantes e imprensa do país, Somente pela ótica e divisão literal do Brasil, De mais um estado pertencente ao Nordeste, Como tanto o

Poema: ANESTESIA DA ROTINA

ANESTESIA DA ROTINA* Acordo e brigo a todo instante com esta rotina sem propósito. Vivo em desconsolo, sou amante atônito, Sendo assediado moralmente pelos outros, por quem está no trono, Me desenrolo. Quero tudo, tudo de pelo menos uma coisa, Trabalho, mas quanto mais trabalho, nada vejo flórido, Sou ao acaso, voo meio cansado, Me desconsolo, quando cesso-me aos solos. Não tenho púlpito, está todo mundo surdo, Só sabem das coisas que lhes são impostas na cara dura, Sem lisura aos nossos olhos, Olhos sem retina, não vemos sequer o que se passa na esquina, Só nos tablóides mórbidos. Cadê nossa consciência? Será que só vamos submergir nesta sobrevivência? Surrado e violentado com esta demência? Mas que tanto queres e queremos neste silêncio, nesta tormenta. Viemos para este berço para quê? Somente para nos esbaldar em nosso próprio ego? Para viver eternamente em ostentoso castelo? Não, não viemos para ser meros quietos, Viemos para ser inquietos e sinceros,

Poema: SOU CONDOR

SOU CONDOR* Sou o condor da lareira, Sou o fogo que cospe a fumaça desta beira, Sou albatroz, vejo de cima, o que está debaixo de vós, E o que está nesta pirambeira. Sou a águia que morde a si mesma e encontra mais garras e asas, Que se reconstrói no velho e renova suas alçadas. Sou o mesmo condor que olha para o seio social, E em meio ao desencanto, toma a terra como sua própria natal, Se indigna na dor, na chuva e no desleixo dos governantes, nesta cela mortal. Sou o que grita, sem gente, o que apanha como delinquente, O que clama por justiça ao povo latente, e ao povo, mormente. Sou o que grita enjaulado, com fome e com sede de macho. Sou o que não se contenta com pouco, com esmolas, com pena e tampouco Ao não ter nada e ao ver meus irmãos em palafitas desta fragata, Em ver lixo disputado como alimento nas calçadas, Em ver indiferença da gente que não olha para nada, E cruza ao longe deste povo de mortalha. Sou mais e mais condor, quando vejo ninguém fazendo