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Poema: PELOURINHO

PELOURINHO*

Pelô, és minha vida!
Não é meu capricho, é meu desígnio,
Meu caminho e minha solidão,
Pois quando contares o que já te ocorreu,
Sentirei orgulho do seu Orfeu,
Quando todas as igrejas e pedras saírem do tempo,
Todos saberão o quanto passou de sofrimento
No Pelô dos escravos e senhores de engenho,
Da casa-grande que ficava ao lado,
E trazia este porão, este remendo.

E hoje sinto cada vez mais orgulho,
Do teu acarajé, do teu vatapá e da tua cocada,
Do teu malê, do teu afoxé e das ruas enladeiradas.

Que sorte teve Gregório de Mattos, que tanto virou em lua deflagrada,
Passeou por teus largos e tuas praças.

Gosto do teu riso, bebo teu cravinho, sonho com tua mágica.

Sou nativo do teu sangue, da tua história,
Da tua vitória, meu peito em brasa,
Todos testemunham o que antes lhes era abuso.

Hoje tuas ruas são cornetas e marchas.
O que antes era tapete vermelho,
Hoje, por elas, turistas passam.

Pena que se revitalizou em parte,
Sua parte mais pobre continua em farpas.

À margem da tua face, para teus olhos são a tua máscara.

Pedro Arcanjo, Quincas Berro D’Água e Teresa Batista,
Sois a minha cama, a minha mesa e a minha casa.

Quando te visito, mais sou teu vizinho, teu inquilino e tua parte,
Sou teu filho, teu menino e tua laje,
Gosto de ti como és,
Pela tua história, pela dignidade dos que por ti lutaram,
E hoje se mostram como seu fruto e sua linhagem.

Fico feliz, pois o que antes eram negros escravos, cerceados e capados,
Hoje se mostram inteligentes e conscientizados,
Vide o Olodum, a Banda Didá e o Cortejo Afro,
És minha cidade, meu bairro e minha saudade,
És o sol do meu dia, a lua da minha noite,
És minha castidade,
Sonho por ti e luto por ti em qualquer idade,
Pois não existo sem ser tua parte,
Sem teu carinho e sem tua irmandade.

És minha água, minha terra, meu fogo e meus ares.
És a porta, a janela e a verdade,
Sonharei na água e não verás meu sonho cair por terra,
Que quando dormiste e acordaste,
Serás cada vez mais esta terra sempre bela,
Com tua riqueza cultural, que a paisagem rega,
Com teu povo comum e natal,
A desfrutar uma liberdade jamais vista,
Com tua inclusão social sem ser mínima,
Com o máximo horizonte a nos expressar sem míngua,

Que sejas este baluarte, que sejas a igualdade,
Com sua baianidade límpida e tua brasilidade química,
Sonho com o epitáfio da desigualdade racial e social,
Que tua pedra xinga, que nosso povo aspira,
Desta nossa Bahia, nossa eterna “Mainha”!
Repousa à frente da Baía de Todos os Santos,
Reduto também do profano,
Patrimônio Histórico da Humanidade,
Nosso Orgulho Baiano deste Brasil 500 anos.

Sonho com o dia em que haverá igualdade em todos os pilares,
E não serás mais a minha utopia, serás nossa conquista,
De uma unidade, de um sobrado caído que se dizima,
Para uma comunidade e um Pelourinho que se dignifica.

Diego Fonseca Dantas
01.02.2010

*Registrado no escritório de Direitos Autorais da Biblioteca Nacional - RJ.

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