ANESTESIA DA ROTINA*
Acordo e brigo a todo instante com esta rotina sem propósito.
Vivo em desconsolo, sou amante atônito,
Sendo assediado moralmente pelos outros, por quem está no trono,
Me desenrolo.
Quero tudo, tudo de pelo menos uma coisa,
Trabalho, mas quanto mais trabalho, nada vejo flórido,
Sou ao acaso, voo meio cansado,
Me desconsolo, quando cesso-me aos solos.
Não tenho púlpito, está todo mundo surdo,
Só sabem das coisas que lhes são impostas na cara dura,
Sem lisura aos nossos olhos,
Olhos sem retina, não vemos sequer o que se passa na esquina,
Só nos tablóides mórbidos.
Cadê nossa consciência?
Será que só vamos submergir nesta sobrevivência?
Surrado e violentado com esta demência?
Mas que tanto queres e queremos neste silêncio, nesta tormenta.
Viemos para este berço para quê?
Somente para nos esbaldar em nosso próprio ego?
Para viver eternamente em ostentoso castelo?
Não, não viemos para ser meros quietos,
Viemos para ser inquietos e sinceros,
E com a realidade que se insinua aos seus turvos olhos,
E que só a olham, olhos claros, volumosos e abertos,
Ao consumismo exacerbado e a tudo o que é caro,
Mas caro mesmo é o homem jogado na rua do ilógico,
Mas não tem nada não, não vemos isto mesmo, tão lógico,
Este ritual rotineiro, que nos deixa só desejo,
E trancafia o nosso anseio
De uma vida melhor,
De mais leveza e menos levedo,
Porque amanhã, temos que ganhar mais dinheiro,
Senão, entramos em desespero,
E repetimos e nos repetimos a não olhar para o que há de pior,
É melhor fingir mesmo, pois se não é a gente,
Não temos que nos preocupar, só basta ter dó,
Dar trocado e miúdo para quem é cravado ao lapso e ao sujo,
Sem nem lhe tocar a mão e nem olhar para o olho do mudo.
Bravo! Já achamos que fizemos o melhor.
Se o melhor que fizemos é o que achamos de melhor,
Já basta! Precisamos ganhar dinheiro para dar este mesmo melhor!
Coitado do ser humano, tão ingênuo, tão escabroso, tão alheio,
Ao que passa à sua linha de visão e ao cérebro que não se atenta ao feio.
Que bom que temos uma rotina para ganhar nosso capital,
Sustentar nossa casa e ter nosso pão,
Temos que nos nivelar pelo raso, fruto deste atraso,
De quem fala que a fila está aos montes e em erupção.
Que bom que temos o mesmo dia, o mesmo trabalho,
Engessados e cerceados, tão educados, enquadrados e tão em vão.
Diego Fonseca Dantas
04.03.2010
*Registrado no escritório dos Direitos Autorais da Biblioteca Nacional - RJ
Acordo e brigo a todo instante com esta rotina sem propósito.
Vivo em desconsolo, sou amante atônito,
Sendo assediado moralmente pelos outros, por quem está no trono,
Me desenrolo.
Quero tudo, tudo de pelo menos uma coisa,
Trabalho, mas quanto mais trabalho, nada vejo flórido,
Sou ao acaso, voo meio cansado,
Me desconsolo, quando cesso-me aos solos.
Não tenho púlpito, está todo mundo surdo,
Só sabem das coisas que lhes são impostas na cara dura,
Sem lisura aos nossos olhos,
Olhos sem retina, não vemos sequer o que se passa na esquina,
Só nos tablóides mórbidos.
Cadê nossa consciência?
Será que só vamos submergir nesta sobrevivência?
Surrado e violentado com esta demência?
Mas que tanto queres e queremos neste silêncio, nesta tormenta.
Viemos para este berço para quê?
Somente para nos esbaldar em nosso próprio ego?
Para viver eternamente em ostentoso castelo?
Não, não viemos para ser meros quietos,
Viemos para ser inquietos e sinceros,
E com a realidade que se insinua aos seus turvos olhos,
E que só a olham, olhos claros, volumosos e abertos,
Ao consumismo exacerbado e a tudo o que é caro,
Mas caro mesmo é o homem jogado na rua do ilógico,
Mas não tem nada não, não vemos isto mesmo, tão lógico,
Este ritual rotineiro, que nos deixa só desejo,
E trancafia o nosso anseio
De uma vida melhor,
De mais leveza e menos levedo,
Porque amanhã, temos que ganhar mais dinheiro,
Senão, entramos em desespero,
E repetimos e nos repetimos a não olhar para o que há de pior,
É melhor fingir mesmo, pois se não é a gente,
Não temos que nos preocupar, só basta ter dó,
Dar trocado e miúdo para quem é cravado ao lapso e ao sujo,
Sem nem lhe tocar a mão e nem olhar para o olho do mudo.
Bravo! Já achamos que fizemos o melhor.
Se o melhor que fizemos é o que achamos de melhor,
Já basta! Precisamos ganhar dinheiro para dar este mesmo melhor!
Coitado do ser humano, tão ingênuo, tão escabroso, tão alheio,
Ao que passa à sua linha de visão e ao cérebro que não se atenta ao feio.
Que bom que temos uma rotina para ganhar nosso capital,
Sustentar nossa casa e ter nosso pão,
Temos que nos nivelar pelo raso, fruto deste atraso,
De quem fala que a fila está aos montes e em erupção.
Que bom que temos o mesmo dia, o mesmo trabalho,
Engessados e cerceados, tão educados, enquadrados e tão em vão.
Diego Fonseca Dantas
04.03.2010
*Registrado no escritório dos Direitos Autorais da Biblioteca Nacional - RJ
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