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Poema: SÃO SALVADOR

SÃO SALVADOR*

São Salvador, ou melhor Salvador,
Somos íntimos, somos cúmplices em tudo.

Dos oito anos em que morei contigo
Nunca fui o mesmo, nunca te esqueci.

Estás sempre em mesmo sonho,
Em minha rotina, a me perseguir.

Penso e tenho de deixar-te todo dia,
Não sou teu nascido, sou mais teu turista e inquilino.

Amo-te à distância, amor platônico, aquele de infância.
É minha essência, vivo como Caymmi, cantando com saudade a sua pujança.

Não sou cancioneiro, nem trovador, por isso, vou escrevendo esta poesia mansa,
Para lembrar-te que fazes parte do que hoje sou.

És a terceira capital brasileira em população.

Que prazer e deleite com que digo isto,
Cresceste do que era o berço do Brasil.

Antes só um estado gigante,
Mas ainda pra mídia e estereótipos, um pigmeu
E um paraíso para festas de um povo hilariante,
E vista pelos governantes e imprensa do país,
Somente pela ótica e divisão literal do Brasil,
De mais um estado pertencente ao Nordeste,
Como tanto outros, exceto o eixo Rio, Minas e São Paulo,
Que eles consideram como os únicos carros-chefes,
Porém, o Brasil tem outros vinte e sete,
E a Bahia foi onde tudo começou, onde tudo se sucede.

Mas, decerto, das políticas públicas que irão trazer-lhe mais igualdade,
E justiça a um povo com a maior concentração negra do país,
Será, então, a Salvador de todos nós,
Não só dos turistas, da elite, que desdenham de vós.

Vejo-te em cada passo, quando durmo e quando penso.
Carrego tua língua em cada fala e em cada verso,
Em cada crítica, em cada postura e atitude em que submerjo.

Chego a me embriagar em suas fontes e na história viva,
Quando te visito, quando estou à tua espera a me eternizar.

Salvador, és meu resplendor, és o instante-momento
Em que sei quem sou.

Sou tuas raízes quando te avisto,
Comporto-me como incendiário lírico,
Sou teu eterno relicário,
Que tanto uso e me esbaldo como imenso perdulário,
Sou santo e profano, sou sincretismo e por ti apaixonado.

És meu sonho de consumo, minha terra santa,
Meu repouso, que me revigora e me mantém preso em forte lastro,
Teu amor é fogo, paixão em dobro, contigo, vivo fácil,
És meu começo, meu meio e meu fim, eterno e mágico,
És meu caminho, meu norte e meu anjo querubim,
Fico bobo, viro criança, sem rumo, sou máximo.

És minha entrada, minha saída e meu caminho,
És minha jornada, minha guerra, minha paz e meu trilho,
És minha jangada, meu barco, minha barca e a ponte do meu rio,
És meu rio, minha Bahia, minha guia, a fonte do meu brio,
Da minha mente, da minha veia e do meu coração-menino.

Diego Fonseca Dantas
11/04/2010

*Registrado no escritório dos Direitos Autorais da Biblioteca Nacional - RJ

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