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Poema: CONDENADOS À SUBSERVIÊNCIA

CONDENADOS À SUBSERVIÊNCIA*

Sou o que somos assediados moralmente,
No trabalho, na rua, na procura, para a busca de uma oportunidade ascendente,
Fazemos tudo, só não fazemos o que gostamos, por que estamos indigentes,
Somos o zero à esquerda, o pão sem manteiga, o coro sem gente.

Por que não somos ouvidos, somos tão impedidos
De falar o que sentimos?
Somos compelidos a ser tudo o que não é quente.

Somos o desgosto em pessoa, somos a carne viva,
Com esparadrapo partido e boca sem dente,
Fazemos tudo o que nos mandam, marginalizando nossa ideologia,
Nossa convicção e nossa mente.

Temos que fazer pelo dinheiro, pela moeda em queda,
Pelo papel de pouco valor, com muito suor e calor,
Para ter nosso pão, nosso café e um pouco de sabor.

Que sistema infernal, que largo lamaçal,
Que temos a subserviência sugando nossa consciência.
Poucos vivem de fato, pelo menos unilateralmente,
Pois a maioria vive em parte, em miúdos e muito mal.

Por que não democratizamos o trabalho, as ideias e o resultado?
Por que somos burro de carga, jegue e jangada, camelo e animal de caça?
Por que somos cerceados, trancafiados, se o que mais queremos é pelo menos falar,
Mesmo que seja nada, ou algum aporte, alguma marcha?

Terei o imenso prazer de ver isto acontecer,
A participação popular frente a este QG.
O debate das idéias ao invés de ficarmos à mercê
De quem tem a palavra, de quem nos atira a estrada,
Resgata-nos quando quer, quando lhe convier,
E quando a um trabalho tiver, para depois nos dispensar quando quiser,
Impedindo-nos de coletivizar o vencer.

Quando teremos sossego, para não vivermos em medo?
Quando teremos consciência de verdade e coragem para o desassossego?
Terei, sim, o imenso deleite de viver um sonho de chances iguais,
De sentar à mesma mesa,
De querer a mesma idéia em vias de uma só ceia,
De querer a coletividade e o bem-estar social outrora rejeitado,
Como seu verdadeiro prazer,
Para acabar com nosso coletivo desprazer,
De sua autocracia e seu martírio de poder.

17/03/2010

*Registrado no escritório dos Direitos Autorais da Biblioteca Nacional - RJ

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