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Ensaio: A tomada da Práxis pelas entranhas do Capital (P. II)

Entranhar-se no capital, faz com que fiquemos à espreita do momento crucial para a virada da ordem, ao passo que se acumulam às forças de educação e conscientização popular das massas e da maioria do povo. Importantíssimo e vital, a conquista da classe média, ou pelo menos dois terços dela, pois é a classe média, o fiel da balança neste processo condizente ao materialismo histórico, em vigor nesta contemporaneidade. Somente a conscientização dessa classe, pode criar um estopim, com apoio e suporte para a virada de uma nova ordem, sócio-econômica, tendo como premissa, objetivo e operacionalização, a práxis. Para se conquistar a classe média, é preciso além da apuração crítica advinda de sua consciência, um espasmo, pelo menos, uma visão prática, de como poderá ser o modelo socialista. Qual o seu papel, qual seu ganho humano e econômico. Sem conscientizá-lo, não há o desvelar da realidade e de seu sistema capital. Mas sem visualização ao horizonte de sua aplicação prática, não há acumulação de forças ideológicas para se transitar do modal capital, para o social. Não há, portanto, motivação para tal.

O Modal capitalista e seu amálgama é modulado pelo ponto de vista e âmbito das massas que marcam o comportamento e atitude do indivíduo pela crença de que se pode trabalhar, atingir a classe média, ascender às altas classes e assumir uma real condição de acumulação de capital e recursos, para seu bem-estar social, à sua garantia de conforto e de aquisição de bens de consumo e poupança para manutenção de sua vida e dos seus. Isso vale para o senso comum. Para os grandes operadores do capital, isso já não se faz suficiente. Para eles, que detém força e poder com o uso fruto dos meios de produção, seja industrial, agrário, comercial, serviços ou financeiro, a sua acumulação é uma constante, ascendente, sempre crescente, se possível nos quatro quadrantes. O meio de produção, além de meio de riqueza e acumulação de capital, é o meio mandatário ao meio social, humano, e suas prioridades. É de seu senso comum, que toda engenharia seja factível e possível, se o mandatário e “necessidade” da empresa estiverem ameaçados, mesmo que, supostamente, isso se valha de colocar o ser humano, como secundário. Demitindo-os, reduzindo seus postos de trabalho em prol da mecanização do ser humano à condição de suas, antes, ferramentas e instrumentos de trabalho. À automatização e redução mínima de custos contrasta-se com ínfima condição de ser, ser humano. Corta-se nesse momento, vincendo, a função-social do trabalho. O homem, proletário, perde para sua própria e racional invenção desde que culminou à Revolução Industrial no século XVIII: A máquina – que começou como simples e artesanal, e se revolucionou com o advento da máquina a vapor e com o tear mecânico, agora ganhou com a eletrônica, complexa informação tecnológica e vida própria com Inteligência dinâmica e imprevisível, como nota-se às áreas de computação avançada, robótica e inteligência artificial.

Portanto, passados dois séculos com a hegemonia do liberalismo de Adam Smith, cunhada em seu modo de produção capitalista, incrustou-se que o individualismo seria benéfico para a sociedade. Este velho exemplo batido e mumificado, de que o “açougueiro vende carne para você, não porque o ama, mas sim pensando no lucro que vai obter com a venda”, é um pensamento de uma obviedade tremenda, diria até na retidão da palavra, óbvia. E essa dita frase de Smith, não é exclusiva de um indivíduo, de um dono do negócio. Ela é baluarte “óbvio”, de qualquer ramo de negócio – de qualquer atividade econômica. A questão é que ele, subjetiva ou objetivamente, cravou este pensamento, como único pertencente de um indivíduo, da clássica figura do patrão, e não de um coletivo, até porque segundo ele - em contradição com a obviedade - mesmo afirmou que este pensamento é inerente a todo ser humano. E o é, então do coletivo, ou por acaso, Sr. Smith acha que uma cooperativa agropecuária, que não tem patrões, se aventuram a comercializar os seus frutos da terra, só porque gostam dos seus clientes do atacado e varejo? Claro, que não. Essa obviedade tremenda e fria é pertença também do grupo social, do pensamento elementar da sociedade econômica.

Para se fomentar uma mudança do modal capital para o social, é somente pela educação, mas é pelas entranhas do capital, que se pode gerar, sobre a ruína deste, uma nova ordem motivada na práxis. A questão é acertar o foco do condicionamento. Não é sabor inegociável, a premissa de lucro para uma sociedade individualizada, sob pretextos liberais de se fazer o que quer e bem entender – mesmo que o seja em prejuízo dos outros – e justificando sua conquista, sob o lema do leão e de que vence o melhor. Depende do outro paralelo, pois se a vitória é feita, a base da submissão e subjugo dos demais, principalmente do povo pobre, e da massa sofrida, não há vitória sob quaisquer critérios, que justifiquem essa derrota social, com esta pobreza e miséria, de braços dados às camadas proletárias e pobres. O dinheiro é farto, as forças produtivas com seus meios de produção e a mão-de-obra, também o são, o que motiva a socialização dos meios e da riqueza. Como afirmava Marx e sua magna obra, o Capital, o valor de uma mercadoria e de um produto, são frutos de um elementar trabalho humano, agregado à sua condição de valor oriundo da natureza. Não obstante o valor-uso da natureza e suas características específicas de valor natural; é o trabalho humano, simples ou complexo, que a manufatura, e é da manufatura – que contempla o valor – que produz riqueza, e que, portanto, urge ser coletivizado, pois é natural a todo e qualquer ser humano.

Saindo da questão filosófica, mas não tirando seu caráter que transcende essa matéria, é somente provendo uma mudança de dentro para fora, é que teremos uma moção a mudar o modelo desigual capital para uma ordem que dê isonomia, e verdadeira liberdade para seu povo e sua sociedade. É inimaginável e inconcebível, como pensar, que há possibilidade no mundo e em qualquer sistema social ou ainda, sob quaisquer circunstâncias, um modelo sócio-econômico que se abstenha de oferecer com acesso igualitário a todos, os aparelhos públicos de educação, saúde e segurança, pautando-se pela existência do aparelho privado, visto que essas necessidades básicas do ponto de vista coletivo, não se comercializam sob nenhuma hipótese ou aspecto. Ademais, para dar esses três elementos-necessários e universais, não há como dar isonomia na origem deste triângulo, se os meios e fins de uma força produtiva com seus resultados econômico-financeiros não forem plenamente socializados; em bom português, coletivizados para todos os homens e mulheres de uma nação.

*Registrado no escritório dos Direitos Autorais da Biblioteca Nacional - RJ

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