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Ensaio: A Práxis e sua prática na vida real pelo Condicionamento Humano

Considerando-se o rumo e os vieses que temos neste mundo cunhado em um modal capitalista, navegamos em um mar límpido do ponto de vista de sua ideologia. Ao deparar-se no campo psicológico, percebe-se o quanto a escola Behaviorista tem razão. Às pessoas, desde pequenas, bebês e aspirantes ao entendimento deste mundo novo e sua lógica ressonada em suas cabeças, decidem suas escolhas, baseada no consumo, por vezes, exacerbado e entendendo seu papel como mero consumidor. Como se auto-afirmando que ele é, o que consome. Em parte é verossímil. Pois compramos o que entendemos como necessidade ou desejo. Ou a compilação dos dois, das nossas necessidades-desejos.

Nessa lógica, queremos desde pequenos aquele brinquedo, quando adolescentes, o dinheiro para sair e usar de marcas e etc. Quando adultos, em meio à desigualdade em que vivemos só transparecermos o que nos foi condicionado desde a infância. Ainda mais que, aprendemos coercitivamente à disputa com o outro indivíduo ou o conjunto deles, sendo o “melhor” pelo o que se tem mais, o que se tem; e nos nortear por exceções à regra, por celebridades ou por quem julgamos ter mais, do que nossa expectativa e visão de mundo.

O modal capital é muito mais do que um modo de produção, que preconiza a propriedade privada dos meios de produção. Ele é a própria produção do ser humano. Intrínseca, silenciosa, precisa e intransponível, na mente individual e coletiva do ser humano. Antes, de qualquer movimento, pensamos sempre no seu custo, no dinheiro a ser retornado, a ser investido, e o ganho material, que teremos com isso. Em uma sociedade, que se baseia no alto e pesado custo de vida, esse é o comburente que faltava ao combustível do capital: A ânsia de ganância individualista do ser humano, ou melhor, indivíduo, visto que “humano” é palavra forte que remete muito ao social.

Mesmo que coloquemos o socialismo, a práxis, no interior e centro da sociedade, teríamos ainda sim, esse combustível permeando e reagindo com as pessoas e sociedade. Estamos mais preocupados no bem material que teremos no Natal, do que com o bem-estar social da nossa sociedade. Não interessa se a mesma está doente, contanto, que não sejamos nós, não importa. Não interessa, não nos incomoda. Estranho, para muitos, é quebrar este condicionamento, isso que nos mecaniza como homem, nos engessa como comunidade. Ter nosso próprio bem, nossos materiais e nossos bens de consumo, é salutar, é importante e é saudável para a roda da economia. Mas este fascínio pela escolha individualizada de uma coisa, como o bem-estar pessoal, por vezes social e até em muitos casos, responsáveis pela felicidade, é um pouco demais. Já foi o tempo, que o lobo era lobo do próprio homem. Agora, ele é lobo dele mesmo.

Para se desencantar, vivemos exagerada e deliberadamente em uma sociedade doente, que padece de valores, de cidadania e companheirismo; não temos como almejar sequer isso como utopia, sem nos endereçarmos de corpo à alma para educação. Fundamental, Superior, mas, sobretudo, mecanismos populares de educação..a educação popular. A luz para tirar o mundo deste sombrio cenário e caminhá-lo, ou mantê-lo em trilhos mais humanos.

A barreira ao cumprimento e implantação da práxis, não está somente (e não está mesmo), nas barreiras da elite industrial, aristocrática, política e financeira deste país. Está na mente do ser humano, que provenha a ele, virar um cidadão. Enquanto, só se pensar criar o socialismo política e economicamente, não haverá êxito, pleno e absoluto, sem criar a filosofia nas mentes e corações de todo homem e mulher, desde pequenos, recém nascidos da barriga de suas mães, recém adolescentes, a terem um aprendizado consciente, livre, mas, sobretudo crítico na escola universalizada, para todos os cantos do país, de uma nação.

É na sala de aula, que as premissas e sentido prático do socialismo na vida real, precisam ser passados, repassados, perseguidos e incansavelmente tentados e absorvidos para o cidadão pequeno, para que ele não queira vitimar a sociedade, com o viés aplicado e tão vivido nos dias de hoje, este nefasto individualismo.

Por mais que nossa vida esteja, de certa forma, engessada nas amarras do modal capitalista e de sua devastadora ideologia, precisa-se brigar pelos meios políticos, “democráticos”, sociais e principalmente pelos meios de produção e econômicos, inclusive, o financeiro, que se locupleta à velocidade de um galopante cavalo, que especula o tempo todo. Será que ele irá ganhar ou ser o azarão, sempre, em detrimento do povo e da classe trabalhadora, principalmente às camadas mais pobres? Precisa-se brigar pelo meio humano, não medido por nenhum instrumento ou máquina, mas condicionável, desde pequeno, na escola, na educação, nos dispositivos de um Estado e de sua práxis. Muitos alegarão que isso se trata de um patrulhamento ideológico, mas esquecem que então, seguindo essa teoria, todos nós fomos e somos enquadrados neste patrulhamento, só que pela ideologia do modal capitalista. Só estamos mudando, o lado deste prisma, político-econômico-social. Os meios para se implantar uma idéia, não obstante de seu processo dialético, são os mesmos. Basta a vitória de quem tem a melhor estratégia e seu arrebatamento junto à grande maioria, às massas, consciente ou mesmo inconscientemente, para garanti-la. Depende de algumas respostas de por quem e quais causas, esse mesmo está guerreando e por quem está ganhando. A educação da nova geração, e a conscientização social pela educação popular e cultura são os verdadeiros baluartes para a conquista do novo ser humano. Mas os alicerces são insuficientes se não estiverem suportadas por um sentido prático, por um modelo prático de socialismo, que será regado pela práxis do novo ser humano, que vingará. Oxalá, nos brindem logo com esse momento-prático e este ser humano-práxis.

*Registrado no escritório dos Direitos Autorais da Biblioteca Nacional - RJ

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