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Ensaio: A tomada da Práxis pelas entranhas do Capital (Meios de Administração)

A tomada da Práxis pelo motor humano do Capital: A administração e os Administradores

Quando olhamos para estrutura da sociedade atual, nos moldes de um sistema de acumulação de capital, ou melhor dizendo, o sistema capitalista, constata-se que entre arroubos e avanços, o administrador, pouco nadou progressivamente às mudanças reais e de alcance social, mais igualitária, nas suas nuanças de tomada de decisão em meio à sociedade. Muito em parte, porque, pelo menos por enquanto, ele não é o motor, e sim a peça desta engrenagem, ao olharmos criteriosamente que desde o século passado até os dias atuais, o quanto pouco se andou pela atuação condicionada dos administradores ao sistema vigente. Este ensaio tem como objetivo esmiuçar através do contexto histórico e contemporâneo, e de dados fidedignos e atuais, de que uma mudança estrutural na concepção da Administração serviria à sociedade com mais desenvolvimento, produtividade, corroborando para o caminho da igualdade econômica e social, pela mudança de paradigma na esfera administrativa privada.

Olhemos mais detalhadamente: Os conceitos de administração, de seus instrumentos e de suas práticas hoje e desde sempre, foram (e ainda o são) moduladores de desenvolvimento econômico e de resultados na atividade fim, como gestão de pessoas, comumente no âmbito privado. Neste setor, a administração promulgou e alavancou verdadeiras revoluções, principalmente como ponto de partida após a Revolução Industrial, no século XVIII, inaugurando outras formas de responder, do ponto de vista do modal capital, à “altura” e com solução, aos problemas advindos do modelo de produção industrial, em detrimento da plena reorganização das pessoas da área rural para a urbana, às precárias condições de trabalho, alimentadas e atropeladas por uma nova forma de fomento de desenvolvimento que gerava em um viés: a erupção econômica e ascendência social para os proprietários dos meios de produção, das indústrias, do comércio, das grandes e médias propriedades de terra e de todo aparelho do “modus operandi” capitalista; e de outro, as classes mais baixas, marginalizadas do aparelho, culminando ainda, de forma mais acentuada na desigualdade com a gritante disparidade e divisão de classes sociais.

Os moldes e modelos da Administração, de rudimentar no início do século XIX, passaram a se desenvolver neste século, transcendendo o modelo mecanicista de Taylor, clássica e fundamentalista de Fayol, estruturalista de Weber, para uma visão mais humanística de Elton Mayo, que colocou às relações informais e o ser humano no centro e foco das preocupações da política empresarial, culminando no ápice daquela época, com a experiência de Hawthorne em 1927, na GE. Hoje estamos muito além da teoria e engenharia de Taylor, que focava sempre no homem, somente como resultado motivado pelo dinheiro e como máquina, que tinha que se ordenar e executar o “The Best way”, no melhor jeito de fazer o trabalho, conhecido como o famoso estudo dos tempos e movimentos. Hoje, o sistema não é mais fechado; é aberto, que enxerga na importância da evolução histórica destas pioneiras teorias, como parte de um universo maior, de um sistema maior, que se pressupõe estar em outro sistema, que é a organização social que vivemos hoje, a divisão social do trabalho, ou porque não dizer, o mundo global.

A julgar por esse processo dialético, podemos notar o quanto a Administração (gestão de pessoas, de cima para baixo) avançou neste período - em comparação àquela época em que o ser humano era mais visto como máquina e objeto do que nos dias de hoje - em que também continua sendo a espinha dorsal e objetivo preponderante para o sucesso das organizações, mas que nesta conjuntura mundial, em que tanto à economia e políticas caminham para um mundo multipolarizado, com a ascendência dos BRIC’s e países emergentes, impõe-se a Administração, que ela também sirva efetivamente como força eletromotriz do desenvolvimento, distribuição de conhecimento (senso crítico, que fomente autoconhecimento, educação e, por conseguinte, expectativa de renda futura de um indivíduo) e igualdade de oportunidades, visando à isonomia social para a sociedade, empresas, governo, e comunidades e demais instâncias institucionais e populares da democracia, principalmente à brasileira.

Ao conjugar tanto conhecimento, em plena era da Informação, o usufruto da Administração, também deve se aplicar para esta demanda social que se configura no mundo e na sociedade Brasileira. Com tanto recurso, captação de conhecimento e enrijecimento com relação ao controle dos recursos públicos, e práticas privadas em sinergia com o governo e com políticas trabalhadoras e de massa, podemos transformar um país, que hoje é 3º pior nível de desigualdade social, conforme estudo da PNUD (Programa das Nacões Unidas para o Desenvolvimento). O Brasil tem um índice de 0,56 (pior quanto mais perto de 1). Só para se ter uma idéia, o segundo pior nível, traz África do Sul, Haiti e Tailândia, com 0,59 e o pior, traz Bolívia, Camarões e Madagascar, com 0,60. Voltando à nossa temática: Para termos uma quebra de paradigmas, é preciso sair do conservadorismo para fazer acontecer uma mudança profunda e estrutural na alavanca que controla desenvolvimento econômico e concentrado de renda, para um modelo que dê mais igualdade e oportunidades iguais com distribuição de renda e condições básicas à dignidade de todas às pessoas e sociedade.

Todavia, é sabido que a grande riqueza de conhecimento aplicada pela Administração nas empresas privadas e de forma insuficiente pelo governo no curto prazo, não tem sido suficientes para equalizar esta relação social, de forma estrutural e sustentada à sociedade, principalmente, e, sobretudo, às massas que sofrem defasadas de educação, saúde, cultura e por muitas vezes e “menor sorte e esforço” (como explicitam alguns e a ala direitista), não conseguem obter as mesmas condições dos mais abastados; por muitas vezes sequer conseguem ultrapassar a grande barreira da inclusão social e digital de modo efetivo. Devido a isso, a Administração no âmbito geral e social sugere, em seu viés teórico, técnico e na sua agenda, que a gestão de pessoas em prol dos objetivos organizacionais, também deve ter como meta, arrojada, o desenvolvimento econômico e social, em consonância com a contrapartida de ações advindas do governo e da sociedade, podendo desta forma, mudar diametralmente o quadro de desigualdades sociais e tirar o Brasil, deste hiato de isonomia social e de igualdade de oportunidades, que perdura no país historicamente. Ações da administração no âmbito social com a contrapartida do governo e sociedade civil (organizada) - sugerem as seguintes contramedidas, a saber:

1- Administração Pública – Justiça social e distribuição com isonomia a partir da renda, na carga tributária, e isenção para políticas sociais para empreendimentos sociais, empresas de pequeno e médio porte, dando o peso do tributo ao peso (faturamento e lucro) inerente à empresa, de acordo com seu porte.

2- ONG’s – Autonomia na execução de projetos em sinergia com políticas federais e sociais.

3- Administração Participativa – Quebra da Verticalização nas decisões empresariais e divisão de responsabilidades pelos colaboradores nas tomadas de poder e decisão das empresas, inclusive com os trabalhadores da base, com poder de decisão nos Comitês e Corpo Executivo das Empresas.

4- Cooperativas Urbanas e Rurais – Fomento de cooperativas de bairros e pequenas cidades e distritos, para reorganização do trabalho e da economia locais, com equilíbrio entre trabalho, divisão de responsabilidades e igual participação de lucros, como mola propulsora de desenvolvimento das regiões que se encontram fora dos centros e pólos econômicos.

5- Organização dos Sindicatos – Profissionalização sem perdas de qualquer espécie para a participação igualitária dos trabalhadores, com fomento e entrega de quadros para a participação nos centros de tomada de decisão das empresas.

6- Movimentos populares e de base – Utilizando-se de técnicas administrativas, de gestão de pessoas e teoria comportamental, para articular às massas, a inclusão social e isonomia frente às demais classes.

7- Implementação imediata e consciente do Modelo de Responsabilidade Social nas Empresas, sejam elas estatais e principalmente privadas, com base e exemplo em empresas com comprovada e real atuação em políticas de Responsabilidade Social – disseminando essa política como meio de mudança social na sociedade e comunidades em que estão inseridas.

Como objetivo de trazer como agenda estes pontos para a Administração, e contrapartida de que tal área do conhecimento dará maior senso de planejamento, organização, direção e controle destas frentes, acredito e tenho plena convicção de que estas iniciativas serão o trunfo para uma maior e profunda transformação nas raízes da estrutura brasileira, ainda mais, esta realidade, que é moldada no mundo global, no modal capitalista e nas suas contradições. Essas frentes de atuação na seara da Administração vão de encontro a um mundo com uma filosofia marxista, onde os frutos do trabalho e os bens da terra são divididos pelo coletivo e são controlados e explorados socialmente e de forma sustentada. Como estamos ainda distantes desta realidade, acredito que o caminho a ser trilhado é pelos questionamentos do que se pode fazer melhor e a mais pelo social; e a tomada dos estudos, práticas e força no campo da Administração, são preponderantes para se angariar e implementar a práxis e uma sociedade com mais igualdade social e de oportunidades à sociedade hoje e uma nova no futuro, e para se implementar essa filosofia e “momento-práxis”, a tomada das esferas de poder é de vital importância, e em virtude disso, se faz necessário e vital, à tomada dos meios de decisão, à tomada da própria decisão, enfim, à tomada dos Meios de Administração de uma empresa, de um governo e das organizações da sociedade civil, e com isso, arrebatar à inteligência estratégica e pulmão do capital pelas suas próprias entranhas.

*Registrado no escritório dos Direitos Autorais da Biblioteca Nacional - RJ

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