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Poema: COMPASSO DA SOBREVIVÊNCIA

COMPASSO DA SOBREVIVÊNCIA*
(Já publicado, aqui, neste Blog).

Quem sobrevive, perece, não vive.
Quem sobrevive, não pede, não pensa, não assiste.
Quem sobrevive, não mede, não mensura, não decide,
Não remete, não se faz por vontade própria, não quer
E não se faz por vitrine.

Quem sobrevive não escuta, não estuda, se omite.
Quem sobrevive não se preocupa, só atende, é triste,
Não tem desejo, vive no breu que só lhe permite.
Vive atrás, sendo braço, sem ser mente, não se dirige.

Quem sobrevive não tem paz, só corre, não explode,
Só torce, pro seu time.
Quem sobrevive não se governa, só espera,
Só destina-se, não insiste,
Não tem tempo, não tem alento,
Só vê o seu sustento, seu maior crime.

Quem sobrevive, só anseia, só caminha,
Não tem conflito, não tem crise e não existe.
Quem sobrevive tem subemprego, em desespero,
Para o bel-prazer dos três poderes, do quarto e da elite.

Quem sobrevive vive em parte, sem o todo,
Sem bolo, sendo o bobo da corte, com o corte do que mais gosta,
Do que não tem, da sua casa, das suas tralhas,
Da sua escola, do seu estudo e da sua mesmice.

Quem sobrevive, não tem passado, nem futuro,
Está no presente, dormente, não vê, não ouve e não tem timbre.
Quem sobrevive, mesmo em seu eufemismo,
Poderá sair do lastro, do nó e do desembaraço,
Sair em descompasso, ser a massa da praça,
Não se eximindo de nada,
Tudo o que seu carrasco com o nada lhe oprime.

Diego Fonseca Dantas
06.02.2010
*Registrado no escritório dos Direitos Autorais da Biblioteca Nacional - RJ.

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