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Crônica: Josaphar entre a Vida e a Morte

Josaphar Homerito estava tranquilo. O país acabara de bater recordes: de consumo, de compra de carros, mas, também, de dívidas e inadimplência pela classe média. Mas, ele estava eufórico. Se, tinha dinheiro mesmo via crédito, é porque o país estava bem e ele podia ficar bem. Ele, inteligente e despachado, que tinha aversão à política, mandava às favas toda e qualquer preocupação com a esfera econômica e até brincava com as notícias peculiares de corrupção que adentravam quase todo "santo" dia.

Josaphar achava que o mundo sempre foi assim e sempre haveria de ser, portanto, não botava a menor fé na mudança de comportamento da sociedade, e achava besteira e perda de tempo, discutir os problemas sociais, do país, ainda mais quando num debate – que nas palavras dele era de maluco -, se defendia esta ou aquela posição política.

“Vocês não sabem o que é a vida, vocês estão fora da realidade” cantava a todos os ventos para os amigos que o acompanham, e são politizados. “A vida é pra ser vivida, de qualquer jeito, porque um dia nós vamos morrer”, repetia como mantra e refrão de música que estoura e cai no gosto popular.

Josaphar era engraçado, e isso não tinha como discordar. E, pensando bem, ele estava certo, no sentido inverso da questão. A vida é pra ser vivida, intensamente, mas, o “um dia nós vamos morrer”, pode ser muito bem colocada nesta vida, inclusive para ele. Que, sem saber o que se passa, e andando com venda aos dissabores e ventos da “realidade da vida”, ele pode ter – em algum momento – nenhuma das duas coisas: a vida, em sua plenitude, por não conseguir ser vivida com consciência, e a morte, uma vez que sem a primeira, não há a segunda. Não há dia em que se morrerá se não há o que morrer, pois essa já ocorreu em vida.

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