Estamos em 2012. Obviamente. Mas, não tão evidente para a ótica e enraizamento da base material dos processos históricos que se arrastam até a atualidade, tanto na esfera política, como sócio-econômica na América Latina e Caribe, que nos remete, compulsoriamente, mas, com muita satisfação e liberdade intelectual à análise pertinente e não tão em oportuna hora, sobre os Intelectuais e seu papel hoje, no Bloco.
Também para este caso, não podemos deixar de lançar mão do hiato de comportamento intelectual real, e o esperado à superação das contradições e problemas na América Latina, que deve ser, logicamente, pensada de forma ampla e estruturada, não só com a sorte de eleições como a do México e Venezuela deste ano de 2012, mas suas possíveis inter-relações com Washington como, por exemplo, uma possível retomada da Casa Branca pelo Partido republicano, com o pré-candidato Mitt Romney, o que no caso define de pronto, e diametralmente, a política externa para a América Latina.
Não nos permitindo se furtar também, pela agitação política no Chile por conta da luta pelo setor estudantil e da educação pela universalização da educação com qualidade, desde que o presidente Sebastián Piñeira ganhou o pleito em março de 2010; com as eleições e o estágio da doença de Hugo Chávez para o pleito e continuidade do seu hiperpresidencialismo ao governo da Venezuela; com a pujança e revigorante liderança política, para não dizer também econômica, Brasileira, já que ruma para a quinta maior economia do mundo este ano, se superar a França; a escalada radical ao neo-peronismo com a expropriação da YPF da Repsol, pelo Governo Cristina Kirchner, realizada como projeto de lei no último 23 de abril.
Ao sabor do enraizamento histórico sobre a sua instabilidade política na década de 90 e a hegemonia descendente e não unânime, mas forte e presente ainda na AL, tanto política, econômica e até militarmente dos EUA com laços destacados na Colômbia, coloca em voga um grande repensar e articular da figura do intelectual na região. Como bem exposto e reforçado por Edward Said, nas conferências Reich da BBC de Londres em 1993, o intelectual precisa sair das amarras e “canto da sereia” do poder, do alto e renomado cargo público, da armadilha dos deuses do “patriotismo” e do “em nome da nação”, e do exacerbado profissionalismo que o faz correr na obsessão de não deixar nada fugir ao seu campo específico sob expurgo e perda de um conhecimento mais geral e amplo, para pensar, criticar e se movimentar intelectualmente sobre sua função social de intelectual.
Precisa buscar sem ambigüidades seu norte, e se norteando por seus princípios e valores, e seus respectivos produtos em ideias e causas, sendo independente e “amador” para poder estar em livre consciência e exercício intelectual para criticar governos, movimentos políticos e enxergar por detrás do pano de fundo e da conversa fácil, de tom conveniente, encampado facilmente por, e pelos políticos. É fugir do senso comum de rótulos de heroísmo de líderes políticos, e cortar na própria carne para criticar este mesmo senso geral e público, desde que em consonância com os seus princípios e causas – mesmo que seu preço seja o isolamento e o “linchamento público e cego” – e sua taxação como maldito e desqualificado e de descrédito.
Intelectual para ele não pode dormir no pacificador e conciliador, sob receio de ser rotulado de controverso, desequilibrado e desqualificado; pois são justamente as qualidades que são justamente também as maiores armadilhas e críticas que afugentam a efetiva e viva atividade intelectual e o papel de marginal de exilado do verdadeiro intelectual. Sem dogmas, sem partidos e agremiações, sem compromisso com o governo de ocasião e sem “nação”. Em constante movimento e exílio.
Recorte-se, agora, este ensaio de resenha do livro Representações do Intelectual do referido autor, mas, guardamos suas mensagens: os intelectuais padecem na América Latina, porque a América Latina a bem da verdade e de fato, padece de intelectuais – assim como se estende ao mundo – com raras exceções em ambos os hemisférios. Num grande momento histórico, onde há relativa estabilidade política e econômica na região, os intelectuais deveriam sair da sua especialização taxativa, e de seus dogmas até acadêmicos e partidários para repensar o bloco, não só no que tange ao Mercosul ou à Unasul, mas em mecanismos e contribuições de fato para a integração cultural, social e econômica da região, que passam obviamente pela política.
Claro, que pensando sim, no modelo de instância institucional, mas, pensando na concretização e nas vias de fato para tal modelo. Um movimento de intelectuais facilitaria esta tomada e até, essa integração mesmo que latente, no âmbito cultural. Ainda mais e na carona da conjuntura atual, onde é dado em parte como fracassada a Cúpula das Américas, ocorrido na primeira quinzena de Abril, onde sequer, os países membros conseguiram desfilar na foto com um discurso alinhado e em uníssono, muito pela negativa dos EUA e do governo Obama de rediscutir a participação de Cuba na próxima Cúpula, a convenção temática é dada por analistas como conclusa e sumariamente terminada, pelo menos, com a participação dos EUA no calendário do evento.
Partindo do ponto realçado no início da Conferência por Said, e resgatando Gramsci, de que “todos são intelectuais, embora, há que considerar que nem todos exerçam papel de intelectual, tanto, como orgânico (representantes de classes e empresas) ou como tradicional (professores, episcopais e etc..)”, há um grande hiato, não tanto no número de intelectuais, mas, na necessidade real e na real atividade exercida hoje por eles, e há também, na mesma medida um imenso “grand canyon” em se rearticular e reestruturar à América Latina, enquanto região de vida própria, com suas potencialidades e com sua multicultura; e mesmo com seus traumas fronteiriços e históricos que só desagregam senão no passado histórico, mas, também, na sua memória sempre viva e recontada pelos seus políticos e comandantes-em-chefe de ocasião e situação – característico do personalismo da região.
Um papel impar que não pode ser delegado a chefes de estado, a políticos, empresários – mesmo os seus respectivos intelectuais orgânicos; mas, sim de extrema relevância e vital para o intelectual: para sua emergente sobrevida no status quo, e principalmente para o que sua intervenção pode render coletiva e socialmente em resultados e vitórias práticas na base material. O intelectual da América Latina e Caribe, assim como o ressono de Said, precisa estar articulado e entregue de viva alma à região, articulando com os demais intelectuais hermanos, caribenhos e da América Central. Claro, que tal processo precisa ser liderado, e o Brasil, enquanto instituição e nação, está indiscutivelmente incumbido deste papel, não só pelo viés econômico, mas, pela suas conquistas no cenário geopolítico mundial e no seu tabuleiro como uma das potências vindouras na correlação de forças de um mundo cada vez mais multipolarizado.
Cabe a este grupo discutir na mesa política e repensar a tratativa e o injustificável bloqueio econômico imposto em molduras da Guerra Fria pelos EUA a Cuba; a pretensa “legitimidade” americana de ainda defender intervenções na região com a retomada da ALCA; as ingerências em tom mais forte em países como Chile e Colômbia; o desacordo no caso do golpe em Honduras, assim, como conciliar na medida do campo político a relação Venezuela, Equador e Bolívia, sem perda de suas respectivas soberanias; e ainda reequalizar à situação política e econômica da Venezuela (um dos maiores exportadores de petróleo) e da Argentina, parceiro estratégico para o bloco e para o Brasil. A despeito do tiro certeiro e potencialidade ferida de morte na União Européia, é mister - e urge - utilizá-lo inclusive como caso, para resguardar-se de possíveis erros ocorridos e desajustes, mas, não abrir mão de criação de uma proposta original da união do Bloco da AL, sua diversidade cultural e na consolidação coordenada de seus vieses estratégicos: políticos e econômicos.
Importante articular e avançar nas vitórias, não propriamente no campo da virulência e animosidade política, pelo contrário, no campo da negociação e da articulação, e para isso, o bloco precisa estar em mar coeso, cada vez mais integrado, e mais propositivo. Daí, a importância e o papel de relevância e destaque da figura do Intelectual na assertividade do bloco AL. Ao fugir de interpelações puramente técnico-acadêmicas, sair da comodidade nacionalista e militante; e atuando de forma “exilada” e amadora – com independência e credibilidade crítica, ao passo que é importante a sua interconexão e integração entre os vários intelectuais da região; é que se pode avançar e criar as bases e a sustentação consistente de longo prazo para uma América Latina - ao sair de suas raízes e autoflagelo do seu reducionismo histórico e se propondo a uma postura libertária e independente em sinergia com sua multicultura e autoententendimento às suas próprias culturas. E, para isso, como diz Said finalmente em sua conferência, terá, inexoravelmente de sair da terra e veneração acrítica a deuses e nações, principalmente da simplista militância de um partido, e o principal: sua direta relação com um atraente e de simples ambição - mas como tudo na vida efêmero - projeto de poder ao invés de um poder, poder intelectual enquanto no alcance da constante e necessária crítica e alternativa à estrutura real e social da contemporaneidade da América Latina frente ao seu enquadramento no mundo geopolítico.
Também para este caso, não podemos deixar de lançar mão do hiato de comportamento intelectual real, e o esperado à superação das contradições e problemas na América Latina, que deve ser, logicamente, pensada de forma ampla e estruturada, não só com a sorte de eleições como a do México e Venezuela deste ano de 2012, mas suas possíveis inter-relações com Washington como, por exemplo, uma possível retomada da Casa Branca pelo Partido republicano, com o pré-candidato Mitt Romney, o que no caso define de pronto, e diametralmente, a política externa para a América Latina.
Não nos permitindo se furtar também, pela agitação política no Chile por conta da luta pelo setor estudantil e da educação pela universalização da educação com qualidade, desde que o presidente Sebastián Piñeira ganhou o pleito em março de 2010; com as eleições e o estágio da doença de Hugo Chávez para o pleito e continuidade do seu hiperpresidencialismo ao governo da Venezuela; com a pujança e revigorante liderança política, para não dizer também econômica, Brasileira, já que ruma para a quinta maior economia do mundo este ano, se superar a França; a escalada radical ao neo-peronismo com a expropriação da YPF da Repsol, pelo Governo Cristina Kirchner, realizada como projeto de lei no último 23 de abril.
Ao sabor do enraizamento histórico sobre a sua instabilidade política na década de 90 e a hegemonia descendente e não unânime, mas forte e presente ainda na AL, tanto política, econômica e até militarmente dos EUA com laços destacados na Colômbia, coloca em voga um grande repensar e articular da figura do intelectual na região. Como bem exposto e reforçado por Edward Said, nas conferências Reich da BBC de Londres em 1993, o intelectual precisa sair das amarras e “canto da sereia” do poder, do alto e renomado cargo público, da armadilha dos deuses do “patriotismo” e do “em nome da nação”, e do exacerbado profissionalismo que o faz correr na obsessão de não deixar nada fugir ao seu campo específico sob expurgo e perda de um conhecimento mais geral e amplo, para pensar, criticar e se movimentar intelectualmente sobre sua função social de intelectual.
Precisa buscar sem ambigüidades seu norte, e se norteando por seus princípios e valores, e seus respectivos produtos em ideias e causas, sendo independente e “amador” para poder estar em livre consciência e exercício intelectual para criticar governos, movimentos políticos e enxergar por detrás do pano de fundo e da conversa fácil, de tom conveniente, encampado facilmente por, e pelos políticos. É fugir do senso comum de rótulos de heroísmo de líderes políticos, e cortar na própria carne para criticar este mesmo senso geral e público, desde que em consonância com os seus princípios e causas – mesmo que seu preço seja o isolamento e o “linchamento público e cego” – e sua taxação como maldito e desqualificado e de descrédito.
Intelectual para ele não pode dormir no pacificador e conciliador, sob receio de ser rotulado de controverso, desequilibrado e desqualificado; pois são justamente as qualidades que são justamente também as maiores armadilhas e críticas que afugentam a efetiva e viva atividade intelectual e o papel de marginal de exilado do verdadeiro intelectual. Sem dogmas, sem partidos e agremiações, sem compromisso com o governo de ocasião e sem “nação”. Em constante movimento e exílio.
Recorte-se, agora, este ensaio de resenha do livro Representações do Intelectual do referido autor, mas, guardamos suas mensagens: os intelectuais padecem na América Latina, porque a América Latina a bem da verdade e de fato, padece de intelectuais – assim como se estende ao mundo – com raras exceções em ambos os hemisférios. Num grande momento histórico, onde há relativa estabilidade política e econômica na região, os intelectuais deveriam sair da sua especialização taxativa, e de seus dogmas até acadêmicos e partidários para repensar o bloco, não só no que tange ao Mercosul ou à Unasul, mas em mecanismos e contribuições de fato para a integração cultural, social e econômica da região, que passam obviamente pela política.
Claro, que pensando sim, no modelo de instância institucional, mas, pensando na concretização e nas vias de fato para tal modelo. Um movimento de intelectuais facilitaria esta tomada e até, essa integração mesmo que latente, no âmbito cultural. Ainda mais e na carona da conjuntura atual, onde é dado em parte como fracassada a Cúpula das Américas, ocorrido na primeira quinzena de Abril, onde sequer, os países membros conseguiram desfilar na foto com um discurso alinhado e em uníssono, muito pela negativa dos EUA e do governo Obama de rediscutir a participação de Cuba na próxima Cúpula, a convenção temática é dada por analistas como conclusa e sumariamente terminada, pelo menos, com a participação dos EUA no calendário do evento.
Partindo do ponto realçado no início da Conferência por Said, e resgatando Gramsci, de que “todos são intelectuais, embora, há que considerar que nem todos exerçam papel de intelectual, tanto, como orgânico (representantes de classes e empresas) ou como tradicional (professores, episcopais e etc..)”, há um grande hiato, não tanto no número de intelectuais, mas, na necessidade real e na real atividade exercida hoje por eles, e há também, na mesma medida um imenso “grand canyon” em se rearticular e reestruturar à América Latina, enquanto região de vida própria, com suas potencialidades e com sua multicultura; e mesmo com seus traumas fronteiriços e históricos que só desagregam senão no passado histórico, mas, também, na sua memória sempre viva e recontada pelos seus políticos e comandantes-em-chefe de ocasião e situação – característico do personalismo da região.
Um papel impar que não pode ser delegado a chefes de estado, a políticos, empresários – mesmo os seus respectivos intelectuais orgânicos; mas, sim de extrema relevância e vital para o intelectual: para sua emergente sobrevida no status quo, e principalmente para o que sua intervenção pode render coletiva e socialmente em resultados e vitórias práticas na base material. O intelectual da América Latina e Caribe, assim como o ressono de Said, precisa estar articulado e entregue de viva alma à região, articulando com os demais intelectuais hermanos, caribenhos e da América Central. Claro, que tal processo precisa ser liderado, e o Brasil, enquanto instituição e nação, está indiscutivelmente incumbido deste papel, não só pelo viés econômico, mas, pela suas conquistas no cenário geopolítico mundial e no seu tabuleiro como uma das potências vindouras na correlação de forças de um mundo cada vez mais multipolarizado.
Cabe a este grupo discutir na mesa política e repensar a tratativa e o injustificável bloqueio econômico imposto em molduras da Guerra Fria pelos EUA a Cuba; a pretensa “legitimidade” americana de ainda defender intervenções na região com a retomada da ALCA; as ingerências em tom mais forte em países como Chile e Colômbia; o desacordo no caso do golpe em Honduras, assim, como conciliar na medida do campo político a relação Venezuela, Equador e Bolívia, sem perda de suas respectivas soberanias; e ainda reequalizar à situação política e econômica da Venezuela (um dos maiores exportadores de petróleo) e da Argentina, parceiro estratégico para o bloco e para o Brasil. A despeito do tiro certeiro e potencialidade ferida de morte na União Européia, é mister - e urge - utilizá-lo inclusive como caso, para resguardar-se de possíveis erros ocorridos e desajustes, mas, não abrir mão de criação de uma proposta original da união do Bloco da AL, sua diversidade cultural e na consolidação coordenada de seus vieses estratégicos: políticos e econômicos.
Importante articular e avançar nas vitórias, não propriamente no campo da virulência e animosidade política, pelo contrário, no campo da negociação e da articulação, e para isso, o bloco precisa estar em mar coeso, cada vez mais integrado, e mais propositivo. Daí, a importância e o papel de relevância e destaque da figura do Intelectual na assertividade do bloco AL. Ao fugir de interpelações puramente técnico-acadêmicas, sair da comodidade nacionalista e militante; e atuando de forma “exilada” e amadora – com independência e credibilidade crítica, ao passo que é importante a sua interconexão e integração entre os vários intelectuais da região; é que se pode avançar e criar as bases e a sustentação consistente de longo prazo para uma América Latina - ao sair de suas raízes e autoflagelo do seu reducionismo histórico e se propondo a uma postura libertária e independente em sinergia com sua multicultura e autoententendimento às suas próprias culturas. E, para isso, como diz Said finalmente em sua conferência, terá, inexoravelmente de sair da terra e veneração acrítica a deuses e nações, principalmente da simplista militância de um partido, e o principal: sua direta relação com um atraente e de simples ambição - mas como tudo na vida efêmero - projeto de poder ao invés de um poder, poder intelectual enquanto no alcance da constante e necessária crítica e alternativa à estrutura real e social da contemporaneidade da América Latina frente ao seu enquadramento no mundo geopolítico.
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