As vicissitudes da
vida, a sucessão de fatos, isto é, a mudança decorre do campo normal da vida. O
sinistro ocorrido com a morte de Eduardo Campos decorreu, quase que
naturalmente, na elevação de Marina Silva, sua vice, ao comando da chapa.
Porém, é preciso frear o ímpeto da análise emocional, já carregado dessa carga e
já capturado pelas pesquisas de opinião que a colocam como segunda colocada na
campanha, pois tais cálculos de probabilidade e estatística como o termo diz,
buscam matematizar, mas, não conseguem capturar decerto as tendências gerais o
que há por vir, pelo contrário, estão longe disso. É preciso lembrar idem que, Marina,
de largada, já rachou a cúpula do partido, com a saída do primeiro secretário
Carlos Siqueira, que era o coordenador de campanha de Campos, e saiu da
campanha da “rede”, alegando ter sido desprestigiado e ter sido tratado com
deselegância por Marina.
Embora, Marina aponte
na casa dos 20%, mesmo percentual que conseguiu na eleição presidencial de
2010, e mesmo que seja confortável sua subida para os 26%, como pesquisas
internas do PSDB já apontam; é plausível que a mesma atinja algum teto, que
ainda, nos cabe observar. Porém, temos problemas a olhos vistos na campanha de
Marina. O partido chancelou seu nome por não ter tido opção. Devido ao
imponderável que levou o candidato, o líder, e o conciliador do PSB, Eduardo
Campos da vida e da política. A lacuna deixou uma variabilidade e o vácuo de
vários problemas e alternativas que podem levar a desorganização entre a
burocracia e a base do Partido, uma vez, que cada questão era ajustada
pontualmente e com a ascendência do próprio Campos. Mas, o partido levou a frente
o nome de Marina para não perder com a expectativa de eleger suas cadeiras no
congresso, e também, para não derrocar as eleições a governador nos estados.
Por isso, no âmbito
interno, há grande possibilidade de racha do Partido, uma vez que o ser humano
é emocional; ninguém gosta de, por mais árduas que sejam as vicissitudes da
vida, ser encampado de um jeito que suas vontades são impostas por uma vontade
alheia. Por mais que seja Marina -, seu perfil messiânico, independente de sua ligação
com a religião, a questão não é essa -, a mesma pode levar institucionalmente
a burocracia do Partido, para honrar os compromissos financeiros e a logística
de campanha, mas, não leva decerto, a base, a militância do Partido. Já os
quadros, estes, somente irão acompanhar, até o momento em que sua expectativa
de poder durar consoante a sua popularidade eleitoral.
No debate filosófico do
discurso de Marina, há dúvidas a respeito: o que se pretende dizer com ‘nova
política’? A política continua, e continuará a ser feita por homens, que por mais
poderosos sejam, ainda sim, são homens comuns. Parece-me uma espécie de
idealismo, de voluntarismo, que não sabemos para onde vai, muito menos, onde
está. Na verdade, está apenas no pensamento, no abstrato. A própria Marina está
assessorada por economistas e políticos da era tucana. Seria isso, uma espécie
de contradição? É no mínimo confuso, o termo ‘nova política’, apenas para ficar
por aí, sem estendê-la à expressão. Por quê? Pois, seja qual for o candidato eleito,
terá inexoravelmente seu governo à necessidade de negociar com os mesmos
políticos que estão no Congresso. Inclua-se aí, o PMDB, o próprio PT e PSDB. Por
isso, este anseio carregado de valor, de um critério axiológico, portanto, não
encontra amparo na realidade.
A Marina bem sabe
disso, quando perdeu o embate pelo controle do plano de preservação da Amazônia
pelo então secretário de Assuntos Estratégicos Mangabeira Unger, no governo
Lula. O que ela deseja é legítimo, porém, com um mínimo de análise crítica, não
encontra amparo no concreto da realidade. Por isso, é um discurso no sentido
literal da palavra. É questionável a questão de velha e nova política. São
apenas adjetivos para definir o que a política tem em seu âmago: a busca, o
controle e a manutenção do poder entre os homens. Quando, não se muda a
realidade, se tenta alterá-la pela ideologia, pela ética e no anseio de uma nova
moral, ou seja, apenas no campo do pensamento. Mas, quem se impõe sempre, é a
realidade. Por isso, interessante será
ver o confronto entre Marina e a realidade. As vicissitudes promovidas pelos
fatos, pelo curso normal e pelo extraordinário da vida, ressonadas por uma
ideia podem resvalar, sim na realidade, mas, isso é mais um processo histórico
do que por força da “providência” ou da vontade pessoal, por mais messiânica e
por mais genuína que seja a ideia ou a portadora dela.
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