Olhando à conjuntura mundial, temos um complexo
quadro, como de costume, principalmente após a crise financeira de 2008, onde
segundo dados do Banco Mundial, 40 milhões de pessoas foram impactadas com a
extrema pobreza. Primeiro, após a crise houve agravamento das condições de
bem-estar social na Europa e até nos EUA, com exceção, mas, ponderando que de
forma moderada na América Latina e da China, mas ainda, que como se pode
verificar, nos últimos anos derrocou e desacelerou a China, o Brasil, a Rússia,
agravado pela baixa exorbitante do barril do petróleo de US $ 100,00 para US $
60,00, derrubando as economias produtoras do Petróleo (como a Rússia e a
Venezuela) pela oferta do gás de xisto nos EUA e a grande oferta de petróleo da
Arábia Saudita, aliado de primeira hora da Casa Branca para se contrapor ao Irã
e servir de apoio ao Oriente Médio, que se via diante da Primavera Árabe desde
2011, com Egito, Tunísia, Líbia e a tentativa na Síria de se libertarem de
ditaduras. Tudo isto, em paralelo, acompanhado de perto, mais fortemente a
partir de 2010 pela expansão e comunicação das Redes Sociais, como o Twitter e o Facebook, só para ficarmos nestes dois.
Sobre a crise de 2008, houve o socorro a Grécia,
suporte e aporte financeiro a Portugal e Espanha, em troca de um forte ajuste
fiscal (redução drástica de gastos públicos, dos investimentos sociais, e
redução de benefícios sociais e previdenciários). Enquanto isto, a Alemanha,
maior motor econômico e político do Bloco dá às cartas nesta política de
austeridade em companhia e consonância com a França, que a despeito da
resistência de Hollande, já reza na mesma cartilha ortodoxa. Resultado: sem
investimento e sem gasto, e com a retração e perda de confiança do mercado, ou
melhor, economia de mercado (economia capitalista), não há crescimento
econômico.
O velho continente estagnou e quando cresce, é a níveis sofríveis.
Reflexo político: a insatisfação de um número alto de jovens elevou os
Indignados ao Podemos, Partido que é a terceira força junto com o PSOE e o PP,
na Espanha, e está em franca expansão para colocar em xeque a política de rigor
fiscal. Há em paralelo, fortes movimentos da extrema-direita, como a Força
Nacional de Marine Le Pen, na França. Movimentos de xenofobia contra os
ciganos, muçulmanos, e africanos, que demonstram que se de um lado, há a tentativa
de integração européia, não há de igual modo e a contento, acolhida aos
estrangeiros que rodam a economia nesta Integração, já que normalmente são
vistos como corpos estranhos ao projeto europeu, principalmente em momentos de
crise econômica.
Ainda sobre a crise, os EUA, se viram diante de um
grave quadro de crise econômica e política, com a polarização ainda mais forte
entre os republicanos e democratas, expansão fiscal com mais de US $ 200
bilhões de dólares no mercado financeiro, o que, no refluxo da saída das tropas
do Afeganistão e do Iraque, e combalido devido ao arrocho financeiro, se viu
como única medida e tática investir no seu Soft
Power (De Obama), mais a termo da diplomacia, do que em proporcionar expansão
militar em seus interesses: Resultado: com a Primavera Árabe, o vácuo político nos
Estados do Iraque e Afeganistão, e a Guerra Civil na Síria, junto com a
expansão e entrega deliberada de armas aos combatentes (parece que não se
aprende com os erros, como ocorreu na Guerra URSS – Afeganistão entre 1979 e 1989
que culminou na criação de Bin Laden que formaria a célula da al-Qaeda),
treinado e armado com armas russas pelos EUA e CIA para enfrentar os soviéticos)
se desencadeou no recrudescimento da Guerra Civil na Líbia e depois, na Síria,
donde neste último, a resistência de Damasco com apoio do Irã, Rússia e
Hezbollah, colocou às condições reais para a Jihad se desvincular do que tinha de sobra da al-Qaeda, para com o
Estado Islâmico ocupar leste da Síria e Norte do Iraque, na pretensão e no
êxito parcial de fundar um califado ao estilo dos escombros do Império Otomano.
A Jihad, sunita, financiada pela Arábia Saudita é como aquele que aprendiz de
feiticeiro que manipula forças, que agora fogem ao seu controle. Mas, tudo se
justifica na oposição entre sunitas e xiitas, ou, entre Arábia Saudita e Irã.
Do Soft Power
dos EUA de um lado, a política agressiva de Benjamin Netanyahu e seu Partido Likud,
que se elege agora, em março de 2015, demonstra que o acordo de paz e o
reconhecimento de paridade do Estado da Palestina, ao se verificar o bombardeio
e o bloqueio marítimo e terrestre a Gaza, intensificado no ano de 2014, só faz
crer que haverá uma Terceira Intifada, o que é questão de tempo, e que a
política beligerante de Israel, que já fez unir até então, os adversários: o radical
Hamas e o moderado Fatah, só joga ao longe qualquer acordo que possibilite o
retorno às fronteiras antes do conflito da Guerra dos Seis Dias em 1967. Ainda,
mais, em se tratando da política ostensiva de ocupação e assentamentos nos territórios
palestinos, como a Cisjordânia. A mediação dos EUA com o secretário de Defesa
John Kerry, se não houvesse Netanyahu, poderia ocorrer com mais parcimônia e
sucesso. A conferir o resultado das sanções econômicas da ONU que ganham coro
contra Israel.
No caso da Europa, e do Leste Europeu, há
novamente os contornos de uma Guerra Fria, com os EUA e a OTAN querendo fazer
um cerco nos países do Leste (Lituânia, Estônia, Ucrânia etc.) que antes
compunham a URSS. Resultado: Putin interpretou com ameaça, e partiu para o
ataque na Ucrânia, para ajudar os rebeldes a capturarem Donestsk e Lugansk,
parte do Leste da Ucrânia, quando detectou que o país se compunha para fazer
parte da ‘UE’ e quando a revolução da Praça de Maidan, tinha contorno ultranacionalista e direitista, de
movimentos neonazistas. Um verdadeiro jogo de xadrez, onde até agora, entre
Merkel, Hollande, e os EUA, Putin, se não deu o xeque-mate, está próximo disso.
Anexou a Criméia, defende um status de estado descentralizado para as
Repúblicas do Leste, e já demonstra que não está disposto a recuar em sua
expansão militarista, por sinal, uma das mais avançadas do mundo. Sem contar sua
privilegiada posição geopolítica cobrindo a Europa e a Ásia. Não à toa, a
Rússia, historicamente já renegou a tese do espaço vital (Lebensraum) do Terceiro Reich.
Que o diga a própria Alemanha Nazista e o Napoleão, que caíram diante de
Moscou. É de se entender o receio que desperta nos países e potências
ocidentais. Além de que são os russos que detém a torneira de extensa parte do
gás que abastece a Europa ocidental, em especial a França e a Alemanha.
Na América do Sul, crise na Venezuela, e na
Argentina, que tem como pano de fundo a questão econômica (baixa do preço do
petróleo que financiava a Venezuela e o calote financeiro da Argentina) e a
morte dos dois condutores políticos dos dois países (Hugo Chaves e Néstor K.)
criaram instabilidade em meio a eleições parlamentares em Caracas e
presidenciais na Argentina); e desintegrou em parte a representação do povo
para com os representantes, o que ameaça abalar os artífices do chavismo e kirchnerismo
(neoperonismo); temos que relembrar a reativação da Quarta Frota Marítima dos
EUA, nas águas latino-americanas, o ensaio de uma possível distensão na relação
diplomática dos EUA com Cuba, o acordo comercial do Peru, Chile, Colômbia e
México (Aliança do Pacífico) com os EUA que rivalizam com o Mercosul; a redução
do papel do Brasil, como referência e líder natural, econômico e geopolítico de
um continente, devido a crise política e econômica, por problemas externos e
internos, que se agravaram em 2010, no rescaldo da crise de 2008.
Tudo isso, espelhado ao vivo pelas Redes sociais. E
apesar da pirotecnia e o barulho das mesmas, há um silêncio das grandes
potências, falta de líderes que consigam ver para além do imediato na captura
da totalidade. O mundo caminha para mais um ação de Sonâmbulos, que hesitam no avanço do Estado Islâmico, nas decisões políticas,
nas questões econômicas, e ao que parece se encontram totalmente engendrados nas
sombras da ordem capitalista e nos apitos das bolsas do mercado de capitais,
que para se recuperar “sozinha”, precisa onerar o Estado, a humanidade com
ajuste fiscal, moral e comportamental. Ao passo, em sono profundo, que, como
que se não bastasse o alerta vermelho de que a agenda geopolítica se volta
novamente para uma agenda territorial, de conquista de território, donde mesmo
distante de um estado de natureza, a guerra parece latente, eminente, como
ocorreu nas Guerras do século passado, mas, o que interessa mesmo é ficar ao
sabor e conveniência da alienação da “economia de mercado” e suas regras que só
interessam como um fim em si mesmo. Mas, o acordar é apenas uma questão de
tempo e depende apenas das circunstâncias da realidade, que independe da nossa consciência e do objeto de nosso desejo.
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